A Catalunha no centro da campanha eleitoral

Foi em clima de polarização que arrancou a curta campanha para as legislativas em Espanha, com o conflito catalão ainda a dominar o debate político.

Quando falta apenas uma semana para a repetição das eleições gerais, a situação na Catalunha continua a monopolizar a atenção mediática, “provocando uma polarização que deixa pouco espaço para as posições intermédias”, observa o politólogo Eduardo Bayón, em declarações ao JN. Um momento de crispação política que, acredita, deverá “favorecer os partidos de Direita” (que se opõem de forma mais frontal à independência da Catalunha), por dar “menos visibilidade aos partidos de Esquerda, com posturas mais federalistas”.

A Esquerda também “deverá ter mais dificuldade em mobilizar os seus eleitores devido à deceção pelo fracasso nas negociações entre o Partido Socialista Operário Espanhol e o Unidas Podemos (na sequência das eleições de abril) para alcançar um acordo de governo”, assinala Bayón.

Assim, embora continue a surgir nas sondagens como favorito, o PSOE não deverá conseguir reforçar a votação que obteve em abril, podendo mesmo cair dos 28,7% para a casa dos 27%.

Por sua vez, o Unidas Podemos também deverá apresentar uma ligeira quebra, descendo dos 14,3% das últimas eleições para os 12%. Quanto ao novo partido liderado por Íñigo Errejón, Más País, deverá estrear-se no Congresso espanhol com uma votação à volta dos 4%.

Já a trasladação dos restos do ditador Francisco Franco do Vale dos Caídos para o cemitério de El Pardo, na semana passada deverá ter um impacto limitado na votação, antevê o analista. A exumação “teve sobretudo um caráter simbólico e poderá beneficiar o PSOE, que cumpriu uma promessa. Mas, com o passar dos dias, o tema tem saído dos jornais, pelo que não será suficiente para gerar votos”.

Direita reconfigurada

À direita, o Partido Popular (PP) é o que apresenta maior recuperação, podendo subir dos 16,7% para os 21%. Mas também a formação de extrema-direita Vox revela uma tendência ascendente, tendo chegado a surgir em algumas sondagens como terceira força, com 10% a 12%.

Ambos os partidos beneficiam da forte queda do Ciudadanos, prestes a perder quase metade dos 57 deputados eleitos em abril, ao descer de 16% para 10%.

Certo é que, uma vez mais, não deverá haver uma maioria clara, esperando-se uma nova fase de negociações. Após meses de impasse político e desgaste institucional, Bayón acredita que, desta vez, os partidos se verão forçados a chegar a acordos. “Seria um problema muito grande que o bloqueio se mantivesse”, afirma, rejeitando o cenário de terceiras eleições.

Tendo em conta a dificuldade de diálogo entre o PSOE e o Unidas Podemos, ganha força a hipótese de o PP poder vir a facilitar a investidura de Pedro Sánchez através da abstenção. Quanto ao modelo de grande coligação entre PSOE e PP, que o líder do Podemos, Pablo Iglesias, tem acusado Sánchez de estar a preparar, é, para Bayón “bastante improvável”.

 

 

 

 

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