Catalães preparam-se para votar, no domingo, no referendo à independência, apesar dos avisos e dos esforços do Governo espanhol, que o considera ilegal.

Marta Soler e Berta Peyrecave encontram-se todos os dias no espaço de co-working que partilham no histórico bairro de Gràcia, em Barcelona. Hoje, em vez de ficarem nas habituais secretárias, as duas designers pegaram nos computadores e instalaram-se à porta do local de trabalho para dar apoio a quem quer saber onde votar no referendo.
Recolheram informação, colaram cartazes, imprimiram panfletos e boletins de voto. Porque a pressão do Governo central, com a ameaça de fechar mesas de voto e o encerramento de sites informativos, está a dificultar a logística do referendo, “tentamos ajudar quem passa a saber onde poderá exercer o seu direito de voto no domingo”, explica Marta ao JN.
“O importante é que as pessoas vão votar”, acrescenta Berta, enquanto mostra uma página alojada no WikiLeaks, a única onde ontem ainda era possível consultar listas de mesas de voto para domingo. “Queremos mostrar que não temos medo. A atitude do Governo só nos faz ter mais certeza de que queremos votar”.
Segundo anunciou ontem a Generalitat, no domingo haverá 2315 locais de voto em toda a Catalunha, com 6299 mesas e 7235 pessoas “dedicadas” a garantir que o referendo decorra com normalidade.
Há urnas e boletins
Em conferência de Imprensa, o conselheiro de relações exteriores, Raul Romeva, o vice-presidente, Oriol Junqueras, e o conselheiro de presidência, Jordi Turull, voltaram a garantir que haverá um referendo, apresentando as urnas a utilizar. Trata-se de uma espécie de contentores transparentes com o logótipo da Generalitat, fabricados por uma empresa chinesa.
“Se alguém tentar impedir que haja uma mesa de voto, os catalães poderão votar. Se alguém assaltar um local de votação, os catalães poderão votar”, afirmou um confiante Oriol Junqueras. No entanto, tanto o líder da Esquerda Republicana da Catalunha como o presidente da Generalitat, Carles Puigdemont, foram ontem apontados pelo Governo espanhol como “desqualificados” para negociar com Madrid uma solução para o problema catalão, por serem os “responsáveis” pela divisão que hoje se vive na Catalunha.
Ainda assim, na conferência de Imprensa posterior ao Conselho de Ministros, o porta-voz do Executivo, Íñigo Méndez de Vigo, mostrou abertura para o diálogo, deixando como condição a substituição dos atuais líderes catalães. O representante do Governo mostrou, no entanto, menos contundência do que o habitual na mensagem de que não haverá referendo. Mantém-se a incógnita sobre o que irá acontecer no domingo.
Segundo a instrução interna ontem divulgada na Imprensa espanhola, amanhã, a partir das seis horas, os Mossos deverão encerrar locais de voto, confiscar urnas e material relativo ao referendo e evitar ao máximo a utilização de violência, de forma a “impedir males maiores”.
“Deverá reinar a contenção e a mediação para a manutenção da paz social e da convivência”, foi a mensagem prudente ontem enviada por Trapero aos mais de 17 mil elementos que integram a Polícia catalã. Caso seja necessário, os Mossos poderão pedir o apoio da Guarda Civil e da Polícia Nacional espanhola.
A mesma ordem estende-se às escolas e centros educativos que ontem, ao final do dia, começaram a ser ocupadas por ativistas pró-referendo para garantir que permanecerão abertos até domingo. Pais, alunos e residentes das zonas próximas dos locais de voto garantem ter atividades lúdicas organizadas para todo o fim de semana, como forma de tentar evitar a ordem de encerramento. Entre elas, ocupar escolas com festas de pijama…
